Uma Crônica sobre Cultura e Justiça social
Artigo do gestor do Centro Cultural Bom Jardim (CCBJ), Levi Nunes, publicado nesta quarta-feira, 22, no jornal O Povo, destaca as amplas possibilidades do campo cultural como fator gerador de inclusão
A cultura é um elemento essencial para o desenvolvimento de um território e para a construção da identidade de uma população. Seus elementos se tornam fundadores e geradores de pertencimentos. Assim, como fosse uma ciranda, a cultura é construída pelo povo, mas também o constrói. Sobre isso, é notória a trajetória do Centro Cultural Bom Jardim (CCBJ), equipamento da Secretaria da Cultura do Ceará (Secult Ceará), gerido em parceria com o Instituto Dragão do Mar (IDM): nasceu do diálogo entre a mobilização dos moradores do Grande Bom Jardim e a necessidade, identificada pelo poder público, de um espaço que provocasse a catarse entre a riqueza da produção local e a melhoria da qualidade de vida da população. Hoje, 16 anos depois, e na semana da data que promove internacionalmente a Justiça Social (20 de fevereiro), o Centro Cultural se tornou lugar de propulsão das artes, demarcando a cultura como elemento basilar no desenvolvimento social da região.
Territórios que foram historicamente vulnerabilizados e que, apesar de possuírem uma produção cultural pungente, não obtiveram o acesso devido aos bens culturais precisam de uma política cultural de qualidade que atue “na periferia-com-a-periferia-para-a-periferia”, como o CCBJ, com diálogo e gestão participativa, promovendo a formação e a fruição culturais como fortalecimento da cidadania cultural.
Asseguradas pela Declaração Universal dos Direitos Humanos, que estabelece o direito à educação e o direito à participação na vida cultural, a educação e a cultura estão lado a lado para o desenvolvimento humano e justiça social. Esse reforço enfatiza a necessidade de garanti-las a todas as pessoas, independente de sua localização territorial, raça, religião, gênero ou condição social.
A ênfase vem do reconhecimento que Cultura e Educação são vetores de acesso a direitos fundamentais, portanto, essenciais para a promoção da Justiça Social e o incremento do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Uma política cultural que atue na periferia e que seja capaz de promover a inclusão social por meio da formação e da fruição. A primeira, como elemento para o desenvolvimento humano e para a construção da identidade de um povo, cooperando no reconhecimento de diferentes culturas e formas de expressão. Já a segunda, como forma de acesso a bens culturais e artísticos, proporcionando o desenvolvimento da sensibilidade e do senso crítico, além de ser um meio de expressão e de diálogo entre os diferentes grupos sociais.
Assim, compreendo que o CCBJ é parte fundamental do cumprimento daquilo que preconiza o Plano Estadual de Cultura, em que a atuação nesse campo deve ser: diversa, assertiva, afetiva, consciente dos territórios onde estão sendo implementadas, com escuta e acolhimento. O sonho que nos move é fazer cultura para transformar o mundo.
Marcos Levi Nunes
Gestor executivo do Centro Cultural Bom Jardim (CCBJ), educador social, mestre em Sociologia (UFC) e licenciado em Filosofia (UECE).