Tendo como mote o início das comemorações alusivas aos 115 anos de nascimento do artista plástico e paisagista brasileiro Roberto Burle Marx (1909-1994), lembrado no próximo dia 4 de agosto, o Portas Abertas – Experiências e Aprendizagem Cultural, em parceria com o Theatro José de Alencar, espaço cultural da Secretaria da Cultura do Ceará e gerido em parceria com o Instituto Dragão do Mar, debruçou-se num trabalho inédito na história dos Jardins do equipamento: uma grande manutenção que resultou na feitura de um documento denominado “Diagnóstico dos Jardins do TJA”.
Concluído em 2023 por uma equipe multidisciplinar, formada pelos arquitetos e urbanistas Fernanda Rocha e Matheus Moreira, além do engenheiro-agrônomo Lamartine Oliveira, o material — que reúne 111 páginas, acrescido de anexos — apresenta o levantamento da condição das espécies vegetais dos jardins históricos projetados por Burle Marx, definindo e orientando encaminhamentos de longo, médio e curto prazos, iniciando por ações emergenciais e preventivas, voltadas à sua preservação; a entrega oficial ao TJA foi feita neste ano, na Sala Izaíra Silvino (Foyer) do equipamento.
Para facilitar a localização e identificação dos espaços nos jardins, foram elaborados desenhos em planta, subsidiados em minucioso inventário da situação na qual se encontravam os jardins, sistematizados e comparados em pesquisas atualizadas sobre eles. São eles: “Planta de setores”, e as plantas de “Identificação canteiros”, de “Condição levantada dos jardins”, de “Condição pós-manutenções dos jardins” e de “Condição buscada nos jardins”. Junto com esta última, produziram-se simulações em vistas com as composições vegetais ajustadas.
Além deste importante registro, a equipe realizou três manutenções preventivas ao longo do processo e, com a finalidade de difusão do conhecimento e do papel educativo desta ação pioneira, foram realizadas três lives (pelo canal do YouTube do Instituto de Arquitetos do Brasil Departamento do Ceará — IAB-CE) seguidas de visitas guiadas gratuitas e abertas ao público aos jardins históricos do TJA: “O jardineiro como ator na conservação dos jardins”; “Um olhar técnico agronômico sobre os jardins do Theatro José de Alencar” e apresentação e convite para entrega do “Diagnóstico dos jardins de Burle Marx no TJA”.
Todo o processo iniciou-se ainda em abril de 2022, com a tentativa de salvamento de um dos mais antigos oitizeiros do lugar, que se inclinava perigosamente. Após a avaliação de peritos e órgãos competentes e ações empreendidas ao longo de meses de observação, verificou-se a necessidade de sua remoção e, junto a isso, a urgência na realização do completo diagnóstico desses jardins, somado as ações para sua manutenção preventiva.
E, assim, iniciaram-se os trabalhos pela equipe multidisciplinar, em diálogo constante com a gestão do TJA, ao longo de muitos meses, entre pesquisas e ações práticas. Devidamente sistematizadas, o compilado dessas ações resultou em uma publicação pioneira que estabelece diretrizes para manutenção, conservação e preservação de importante jardim histórico, hoje integrante da área de tombamento do Theatro José de Alencar, equipamento da Rede Pública de Equipamentos Culturais da Secretaria da Cultura do Ceará (Secult Ceará), gerido em parceria com o Instituto Dragão do Mar (IDM).
Dentre as espécies nativas que atualmente compõem os Jardins do Theatro José de Alencar, estão:
Brasileiras
- Pau-Ferro (Libidibia ferrea var. leiostachya)
- Pau-Brasil (Paubrasilia echinata)
- Clusia (Clusia fluminensis)
Cearenses
- Cajueiro (Anacardium occidentale)
- Jucá (Libidibia férrea var. ferrea)
- Oitizeiro (Moquilea tomentosa)
- Pacavira (Heliconia psittacorum)
- Wedélia (Sphagneticola trilobata)
- Chanana (Turnera subulata).
Para Fernanda Rocha, os jardins históricos do TJA são uma “composição arquitetônica e vegetal que, do ponto de vista da história ou da arte, apresenta um interesse público” (Carta de Florença 1981), sendo representativo Ceará, da atuação do escritório do paisagista Roberto Burle Marx, ícone brasileiro e mundial do paisagismo moderno. Trata-se de um oásis, um refúgio no caos urbano, povoado de verde, de sombra segura e espaços para descanso da vida cotidiana, além de proporcionar uma ampliação dos espaços cênicos e das mais variadas atividades do TJA.
“O tombamento desses jardins, como instrumento legal de reconhecimento e proteção deste importante patrimônio cultural do nosso Estado, visa protegê-lo e possibilita a promoção de garantias para sua integridade e segurança, sendo mais um diferencial para este importante monumento da cultura do Ceará, além de facilitar ações para captação de recursos para sua manutenção e conservação adequadas”, conclui.